Tinha que vos vir contar os pesadelos que me apoquentaram esta noite.
Não sei se foi do raio das bruxas que não me largam o pensamento, ou se foi das migas com frituras de carne de porco que me deu p'ra comer ontem à noite, porque meus filhos, não sei se já vos tinha dito, mas aqui a vossa Beata, é mulher de muito alimento, não fora o caso nem eu tinha aguentado as cargas de trabalho que me couberam em sorte, quando vim a este mundo, que dizem que o destino está traçado desde que se nasce.
Então não é que me apareceram as bruxas todas a cantar e a dançar à minha roda e deram-me a beber de um caldeirão, um liquido azul que eu nunca tinha provado na minha vida, mas verdade seja dita até tinha o sabor daquele vinho que o menino Felino, trouxe ao Sr.Cura?
Eu não queria, mas a tentação foi forte e eu também não sou mulher para desdenhar uma boa pinga e por isso cá vai disto. Até parecia que era veludo a deslizar pela minha garganta abaixo.
Quando dei por mim, estava com o meu Zé agarrado pelo cabelo, que já não é muito porque atirou ao pai dele que morreu sem ter pêlo no corpo todo, Deus o tenha em descanso, e a beber do mesmo que eu, e meus ricos isto contado não dá para acreditar, mas não é que ele parecia que tinha o diabo no corpo, a correr atrás de mim e à roda das bruxas todas que até parecia que tinha 20 anos, tão remoçado que estava?
Graças aos santinhos que tudo não passou de um pesadelo pois quando acordei mal sabia em que aldeia estava, até tive que me beliscar e então olhei p'ro meu lado esquerdo e lá estava o meu Zé a dormir descansadinho e a ressonar que nem um porco, como é hábito dele que era um regalo de se ver.
Isto das bruxas e de tanta gente a falar-me dos tais comprimidos azuis, é no que dá.
Meus ricos filhos, não se esqueçam, é esta noite que elas atacam.
Vou acender uma velinha em vossa intenção.
Beijinhos repenicados e não se esqueçam das benzeduras e dos alhos á vossa porta.
Desta que se assina
Beata da Aldeia