Boa noite meus lindinhos
Estou a rebentar de tanta satisfação que nem sei por onde começar. O melhor é mesmo começar do principio, que foi como aprendi na escola primária, se a memória não me falha.
Já estou de bem com o meu Zé e para lhe fazer um agrado, até voltei a ser como era, que como vossemecês se hão-de lembrar, a vossa beata era morena, já com brancos no cabelo, porque a idade não perdoa. P'ra vos dizer a verdade, eu própria, já não podia olhar para mim, com aquele cabelo amarelo, pois que cada um é para o que nasce, e eu nasci para ser bem portuguesa, só não tenho bigode, porque a menina do salão, deu-me uma coisa para o tirar, que por acaso até dói que se farta.
- Ninguém me tira cá da ideia, que aqueles pesadelos todos que me assaltaram, foi um aviso de Nosso Senhor, para eu me deixar de modernices.
Mas adiantando-me, vos digo já que amanhã vai haver uma noite dançante na Casa do Povo, que por acaso até tem ajudado muito a gente da aldeia a divertir-se e a cultivar-se, que é como quem diz - não fora o caso e morria-se aqui de pasmo, porque o que há para ver já se viu há muito tempo.
Vem cá um cantor de fora, daqueles que vende muitos discos e anda muito pelos estrangeiros
e nem imaginam o alarido e correrias
em que eu andei a mais as minhas vizinhas,
que não há mãos a medir para arranjar tantas cabeças e fazer tantos vestidos.
Arregalem os olhos meus santinhos que vos mostro já como a vossa beata se vai apresentar, porque não quero fazer más figuras.
Ora digam de vossa justiça, se não vou linda?
Beijinhos repenicados e até qualquer dia se Deus quiser
Da vossa Beata da aldeia
( esqueci-me de vos dizer que o Sr. Padre Cura já deu a sua bênção e vai-nos agraciar com a sua presença por uma questão de respeito)